O referendo sobre o aborto está à porta e temos assistido a campanhas de baixo nível por parte das plataformas de apoio ao "Não". Arrisco a dizer que foram ultrapassados todos os limites do razoável.
Ora seguem alguns exemplos de como este país ainda anda:
Em Santa Comba Dão, o padre Tarcísio Alves distribuiu folhetos a referir que as mulheres que praticam o aborto são imediatamente excomungadas para além de não terem direito a um funeral religioso. Posto isto desta maneira presumo que um padre pedófilo tenha o mesmo tratamento... O habilidoso padre refere ainda e passo a citar: "Vivemos numa sociedade machista em que aos homens tudo se tolera e nas mulheres tudo se vitupera." Ou seja, a mesma sociedade onde as mulheres não podem ser ordenadas padres.
Em Setúbal, as crianças de dois colégios ligados à igreja levaram para casa panfletos cujo teor, no minímo, é de mau gosto. O panfleto conta a história de uma criança que questiona a mãe por ter feito um aborto. A linguagem utilizada é vergonhosa, intolerável e inqualificável. Não me atrevo a transcrever o que quer que seja desse panfleto. Isso seria fazer ainda mais publicidade.
Em Coimbra, a diocese é acusada de ter colocado em panfletos, uma foto de um bebé de meses, filho de uma das signatárias do Movimento de Despenalização ao aborto.
Bagão Félix, esse grande ministro(!) que passou pelo governo de Durão "Burrroso", afirma que a mulher que faz o aborto deve cumprir serviço comunitário. Tudo bem, a mulher aborta e depois vai varrer as ruas...(!)
Já nem me quero alongar sobre os cartazes espalhados pelas ruas onde se lêem barbaridades como "financiar clinícas de aborto com os nossos impostos". Pelo amor de Deus.
Os que afirmam que vão votar "Não" esquecem-se que a mulher que pratica o aborto clandestino também corre perigo de vida. Mas isso não interessa, "eu voto não porque sou pela vida" afirmam eles. "O Estado é que deve dar condições para a mulher ter o filho". Meus amigos, o que está em questão não é se o aborto vai existir ou deixar de existir. Aí não temos escolha possível, o aborto clandestino vai continuar a existir se o "Não" vencer. A grande questão que se coloca neste referendo é, no fundo, bastante simples. Primeiro, deve a mulher ter direito a decidir se quer abortar ou não sem que para isso tenha de ser penalizada? SIM!
Deve a mulher usufruir de todas as condições num sistema legal de saúde sendo devidamente assistida por quem de direito para que assim a sua própria saúde não corra riscos? SIM!
Deve o aborto continuar a ser feito no vão de escada, recorrendo-se a mezinhas sem regulamentação, que provocam hemorragias internas e um sofrimento desnecessário. NÃO!
Termino com um apelo a todos para que votem no referendo de dia 11. Não se abstenham. Vamos provar que somos um país culturalmente evoluído, capaz de tomar decisões em consciência e que não somos mais aquele Portugal do antigamente, salazarento e atrasado. Votem!
O meu irmão Nikita não voltará a Kharkiv.
Há 5 semanas
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